quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O chefe se distraiu?


Texto genial!



Extraído do site http://www.tribuneiros.com/

O chefe se distraiu?

por Felipe Moura Brasil (Pim) - Quarta-feira, 12 de Setembro de 2007

Os ingleses (ou bretões, ou britânicos, ou súditos unidos) "perdem" 233 milhões de horas de trabalho por mês em sites de relacionamento. Isso dá um prejuízo de mais de US$ 260 milhões (cerca de R$ 520 milhões) por dia às empresas do país (ou grã-país, ou reino, ou terra encantada). Não vou dizer quem fez a pesquisa, porque isso nunca interessa a ninguém.

Mas adoro esses dados exorbitantes: 233 milhões de horas por mês, US$ 260 milhões de prejuízo. Nem existem 233 milhões de horas num mês. (São em média 720, segundo meus cálculos). Isso me soa como aquelas promoções: "Escreva uma frase e concorra a R$ 1 milhão de reais em prêmios!". Você não está concorrendo a R$ 1 milhão coisa nenhuma. Há, quando muito, um milhão de prêmios de 1 real - e você nem sequer pode ganhar dois prêmios, ou seja: 2 reais, nem pensar. Melhor comprar uma raspadinha na banca.

Dito isso, a preocupação continua no país do Big Beckham e no mundo: o que fazer? O estudo concluiu que as empresas têm mais é que cortar o facebook da rapaziada. Um myspace básico na hora do almoço (do almoço!), e olhe lá. Orkut, de jeito nenhum. É curioso: o orkut, um site criado por um funcionário da Google durante os 20% de seu tempo de trabalho concedidos pela empresa para desenvolvimento de projetos pessoais a ela vinculáveis, agora é acusado de reduzir o tempo de trabalho da humanidade. Ou seja, existem dois tipos de chefes: aqueles que criam orkuts; e aqueles que proíbem orkuts. Aqueles que usam o ócio dos funcionários a seu favor; e aqueles que, como namoradinhas ciumentas, usam contra.

["(.) regras são regras, afinal, e se é o primeiro dia no serviço, então, ela bem se lembra, faz quase três anos, o chefe, muito direto, logo avisa, apresentando-se: 'Bom dia, meu nome é Paspalho, você é a ascensorista - e não é permitido ler nos elevadores'"]. [C.A.; A moça do elevador, 14/12/2006].

Eu não queria, mas vou dividir com os chefes antiorkut uma antiga curiosidade: quantos puns, em média, será que solta um atleta nos cem metros rasos? Sempre quis saber isso. Vamos pegar por baixo: cem metros sem barreiras. Um? Dez? Cem? 233 milhões? Serão eles, afinal, os puns, prejudiciais ao atleta? Duvido. O primeiro, decerto, dá um belo impulso na largada. Não deve ser diferente na natação. Imagine no salto em altura. Outra: quantas vezes será que Proust foi ao banheiro enquanto escrevia Em busca do tempo perdido? Atenção, chefes: são sete volumes. Terá isso atrasado sua obra? Feito dela pior? Mal-cheirosa? Duvido. Quantas piadas em média faz um médico numa sala de cirurgia? Cinco? Vinte? 260 milhões? Já sei. Vamos colocar plaquinhas de "Proibido piadas" em cima do eletrocardiograma. Será o fim dos erros médicos? Quantas vezes um jogador fode durante a Copa do Mundo? E quantas vezes vamos proibi-los? Isso os faz jogar melhor? Duvido. Romário também.

(Vou começar a vender viseiras de cavalo - aquelas que os mantêm olhando para frente - nas grandes empresas e seleções. Prevejo altas demandas internacionais em curto prazo. Chefes e treinadores, uni-vos. Se não posso combater a estupidez, lucrarei com ela. Eu penso grande).

Eu (também) pensava que ninguém era páreo para o Brasil em castração, sobretudo a intelectual. Continuo pensando. A Inglaterra, se estiver mesmo com ciúmes do nosso primeiro lugar, vai ter que piorar muito. O mercado de trabalho brasileiro é o fim da picada. Com um agravante: brasileiro, em geral, tem vocação para servo, então diz para todo mundo - menos para o chefe -, e não sem alguma ponta de orgulho, que anda trabalhando muito, ganhando pouco, sendo explorado, horas extras em vão. [Existe outro lugar?] Sem fazer qualquer coisa para mudar isso, claro. [Há algo a ser feito?] Tendo que, mesmo com o trabalho pronto, fingir que está produzindo.

É duro dizer, mas hoje só há duas opções razoáveis para jovens com um mínimo de ambição, coragem e inteligência: procurar empresas e chefes (raríssimos) do tipo que criam orkuts ou guiar sua carreira para se tornar free-lancer (empresário, inclusive: chefe de si, portanto). Assim, como qualquer gênio da história da humanidade e como em qualquer empresa pensante, você poderá olhar para o teto, fazer piada, almoçar, peidar, defecar, tocar punheta, ler Tribuneiros.com e foder real ou virtualmente quantas vezes você quiser desde que não atrapalhe ninguém e entregue seu trabalho limpo e bem feito nos prazos (parciais e finais) estabelecidos, sendo avaliado pela produtividade e pela qualidade, aqui subapelidadas de competência (que sempre me remete ao medíocre). Eis a palavra: prazo - esta sim a exigência importante, suprema, a cobrança mais digna de um chefe.

A propósito: durante esta crônica, não fodi, mas fui ao messenger e ao banheiro duas vezes.

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